quarta-feira, 20 de julho de 2016

Comunhão e Redenção

Vendo Maria Seu Filho quase morto, as lágrimas misturadas ao sangue e ao suor do cansaço e da morte, o frio envolvendo Seu corpo e o mundo, ela chorava, silenciosa, olhando aqueles olhos que ternamente a fitavam do alto daquela morte e sentiu ecoar em seu coração o último faça-se, o derradeiro dom da divina caridade: consumava-se seu primeiro sim no amor de seu Filho, abandonado, ofertado, oblação única de dois corações, dois silêncios que, turvados, se entreolhavam atravessando a dor com dardos de amor amor anelante, alcançando seu coração de mulher e mãe a fornalha de amor ardente de seu Filho Divino, amor consumado e consumido, coração trespassado vertendo vida a quantos quiserem viver. Mãe desfeita e refeita no cume da redenção que o Amor quis nela antecipar como fruto da semente que mais tarde morreria, sorria chorosa o Amor feito carne e feito sangue, tornara-se mãe daqueles que Ele viera salvar. Ainda embebida na inocência que não poderia prever tão grande derramamento de amor, sentia-se deslumbrada, vencidos o temor e a angústia do fim imprevisto e infinito quando visto por dentro, e descansou ela também na morte do filho, num silêncio profundo que parecia capaz de segui-lo às profundezas da morte sem, no entanto, deixar de permear a terra e a vida que a envolvia, seu olhar agora capaz de doar o amor que vira totalmente derramado sem esgotar-se, seu coração tornado âncora do paraíso, escada do Céu. Como haveria quem não amasse seu Filho quem se aproximasse de seu coração atravessado pela espada do amor, daquele coração aberto e feito refúgio dos desesperados pecadores? Fê-la seu paraíso o Senhor de toda beleza para nela o encontrarem quem O buscasse! Ah, inefável amor divino, que faz de criaturas seus filhos e entre eles quer encontrar Suas delícias! Não amar-te nos é impossível depois que te vimos, Amor, em Teu último e máximo gesto, Teu sangue vertido, Teu corpo doado, Tua vida tão perto de nós que a podemos tocar, comungar, nossa dor transformada em amor, redenção!

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