sábado, 25 de janeiro de 2014

Sacrifício Bendito

Oh Sacrifício Bendito, mistério que ultrapassa infinitamente o curto alcance de nossa razão! Com o quê compará-lo para mais nos aproximar de seu sentido perfeito? É como o homem que se deixa matar para salvar a vida de seu filho, como a mãe que prefere morrer de fome a deixar que a sintam seus filhos. É como desejo nunca satisfeito mas em permanente tensão de realização, como luz que subitamente dissipa as trevas e nos ofusca os olhos, como sol sempre nascente e sem possível ocaso ou eclipse. É como sede infinita que se tenta saciar continuamente, como generosa oferta de si à necessidade constante do outro em detrimento da própria. É como a água límpida de uma nascente virgem, como feixes multicores da luz refratada em cristais, como canto de pássaros ou como fragor de cascatas. É como o horizonte sempre em partida e nunca ao alcance das mãos, como imaginar o que há depois deste véu e descobri-lo sempre insuficientemente em movimento jamais interrompido. É como descanso depois de árduo trabalho, como saciedade depois de longa privação, felicidade inabalável em meio a tormentos e sofrimentos, inabalável contentamento em meio a contrariedades, paz estável indiferente a todo resto. É rir-se da morte e de seu poder estéril, sentir a dor como se fora prazer, sentir a tristeza como se fora alegria. É como o findar-se de toda dor, pois que toda dor não lhe pode superar o gozo, como o eclipsar das trevas, sentido para toda ausência de sentido. É paradoxo para nossa razão, é nossa rendição, retorno à nossa condição primeva e clareza para nosso olhar outrora opaco: eis o Senhor humilhado e o homem exaltado na humilhação! Eis o Cristo rendido à maldade do homem, o Verbo de Deus feito carne cravado na cruz, o homem crivado pela própria maldade que o crucificou! É paradoxo para nossa razão, é nossa rendição, é como Deus nos prova a verdade de Seu amor, amor infinito que sendo infinitamente maior do que nós quis parecer menor do que nós, para que nós, movidos pelo desejo de desvendar-lhe a verdade, dele nos aproximássemos sempre mais, continuamente, indefinidamente, eternamente.