quinta-feira, 3 de julho de 2014

O que vi

O que meus olhos esperavam
ver quando se abriram à tua luz?
Esperava um consolo, contentamento
instantâneo porém duradouro,
uma compensação aos fracassos
de outras esperanças que tive
antes de conhecer-te, Senhor

Vi sobre mim tua misericórdia
pousar e permanecer, tua força
misteriosa que me faz caminhar
quando não posso ver, viver
sem pesares mesmo se as dores
e a insatisfação prevalecerem
no tempo e não houver repouso

Vi o teu rosto, luz inefável
a iluminar-me a razão, sentimento
que não sei descrever, mistério!
Não era luz o que vi, tampouco
era sonho, devaneio, ilusão,
era fé, iluminação, despertar
de meus sonhos, ressurreição

Senti teu abraço, mistério
que tampouco sei descrever,
teu corpo, doce mistério!
Tua vida era a minha, inefável
revelação, meu sangue era o teu,
meus olhos fechados, abertos,
era a ti que eu via, meu Deus.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Simplesmente

És, simplesmente,
Sem mais, se não cabes
Em meus pensamentos,
Emoção ou sentimentos,
Quanto mais num adjetivo,
Mera palavra minha
E nada mais

Entrarias em mim,
Em meu coração?
Se guardo silêncio
Entrarias em mim
Se não te chamo
Por nome que não
Te serve, virás?

Vem, Senhor Jesus,
Deus de minha vida,
Em ti sou, porque és,
Vivo porque queres,
Vejo-te porque me vês,
Sabes tudo de mim
E eu te amo só, sem mais

O que mais poderia
Eu em minha fraqueza?
Amo-te somente,
É tudo que posso
Se deixo de lado
O resto, o que faço
O que poderia fazer

Meu amor não é simples
Gesto, é dom, sacrifício,
Silêncio e sujeição
À tua ação e desejo,
O mesmo desde sempre,
De que eu viva sempre
Para ti, para ti, Senhor

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sacrifício Bendito

Oh Sacrifício Bendito, mistério que ultrapassa infinitamente o curto alcance de nossa razão! Com o quê compará-lo para mais nos aproximar de seu sentido perfeito? É como o homem que se deixa matar para salvar a vida de seu filho, como a mãe que prefere morrer de fome a deixar que a sintam seus filhos. É como desejo nunca satisfeito mas em permanente tensão de realização, como luz que subitamente dissipa as trevas e nos ofusca os olhos, como sol sempre nascente e sem possível ocaso ou eclipse. É como sede infinita que se tenta saciar continuamente, como generosa oferta de si à necessidade constante do outro em detrimento da própria. É como a água límpida de uma nascente virgem, como feixes multicores da luz refratada em cristais, como canto de pássaros ou como fragor de cascatas. É como o horizonte sempre em partida e nunca ao alcance das mãos, como imaginar o que há depois deste véu e descobri-lo sempre insuficientemente em movimento jamais interrompido. É como descanso depois de árduo trabalho, como saciedade depois de longa privação, felicidade inabalável em meio a tormentos e sofrimentos, inabalável contentamento em meio a contrariedades, paz estável indiferente a todo resto. É rir-se da morte e de seu poder estéril, sentir a dor como se fora prazer, sentir a tristeza como se fora alegria. É como o findar-se de toda dor, pois que toda dor não lhe pode superar o gozo, como o eclipsar das trevas, sentido para toda ausência de sentido. É paradoxo para nossa razão, é nossa rendição, retorno à nossa condição primeva e clareza para nosso olhar outrora opaco: eis o Senhor humilhado e o homem exaltado na humilhação! Eis o Cristo rendido à maldade do homem, o Verbo de Deus feito carne cravado na cruz, o homem crivado pela própria maldade que o crucificou! É paradoxo para nossa razão, é nossa rendição, é como Deus nos prova a verdade de Seu amor, amor infinito que sendo infinitamente maior do que nós quis parecer menor do que nós, para que nós, movidos pelo desejo de desvendar-lhe a verdade, dele nos aproximássemos sempre mais, continuamente, indefinidamente, eternamente.