quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Porquê

É sem porquê a rosa e o lírio,
o pássaro e todo resto
que cresce porque cresce
sem cuidar de si,
sem querer ser visto
Seria eu sem porquê ?
Poderia eu não ter razão,
motivo ou sentido,
ser passivo, imparcial,
indiferente a juízo
ou pensamento alheio?
Poderia, talvez,
mas seria impossível
viver veramente
ignorando um motivo,
o porquê que escolhi
tomar para mim,
Deus sacramento,
Eucaristia, sacrifício
que a todo porquê
sobrepuja, motivo
de minha vida,
meu porquê

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Adoração

De morte me feriste
Quando me chamaste
A estar aqui, ficar
Junto ao teu coração

Ser teu sem reservar
Nada pra mim, esvaziar
A mim Inteiramente em ti
Em teu coração

Morte feliz pude provar
A mais doce dor
Que jamais me pôde tocar
Tua mão, teu amor

Vida que aqui encontrei
À parte de tudo e de ti
Amigo tornei-me sem ver
O que em mim fazias tu

Mataste em mim a morte
A vida que eu pensara ter
E puseste em mim o desejo
De ter-te só, nada mais

Abriste assim meu coração
E tu, sem poderes conter-te,
O habitas agora, fazes de mim
Teu céu, altar, Calvário, Tabor

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Busco

Busco-te num silêncio
quase secreto, escuro
solidão pacífica,
teu coração

Passa o tempo e vejo
Só o Senhor, o desejo
De parar, silenciar,
olhar-te, só

Tu, nada mais,
tudo tenho aqui
Tu, eu e tempo
para ficar

Busco-te agora
Sem depois, tempo
curto, anúncio
d'outro tempo

domingo, 23 de junho de 2013

Vendo-te na Eucaristia

Vendo-te na Eucaristia
dissolvem-se meus medos
por ver que já estás
no lugar de onde fujo
onde vejo as penas
que recuso, recuso
ver-te no calvário
e sobre ti o mal,
a pena, a dor
de que me escuso
mas não posso e não
me deixas desviar
os olhos, a alma
e deixo os medos
dissolverem-se aí
no amor, na dor,
no coração teu e eu
também aí me desfaço
e refaço em ti,
encontro a vida
e já não me escuso
do mal, da pena e dor
remédio oportuno,
inevitável, suave
consolação que aqui
encontro, no teu
agora meu sacrifício,
amor feito alimento,
luz, caminho e guia,
Palavra e Sacramento
Destino já presente
ao longo do caminho

quinta-feira, 28 de março de 2013

Cerra teus lábios

Cerra teus lábios
Como a porta do túmulo
Para que sejas também
Testemunha da ressurreição
Acolhe em silêncio
O corpo do Senhor em ti depositado
E seja o Senhor a abrir-te os lábios
E não tu, para que não dissipes
O tesouro em ti depositado
Cerra teus lábios, guarda silêncio
Dá ao Senhor sepultura virgem
Teu coração desocupado, silêncio
Teu dom, tua vida, teu coração
Teus lábios cerrados:
em Ti está o Senhor