quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Lugar melhor

Lugar melhor, multiplicado em tantos
Lugar sagrado e que torna sacro
Tudo em volta e toda parte
Lugar melhor multiplicado em tantos
Tantos lugares, sacrários, altares
Marcas do eterno deixadas aqui
Epifanias, epifania, sacrifício
De Cristo, de Cristo no mundo
Do mundo tornado sagrado,
Sacrário do santo, santo santo
Manifestado aqui, no segredo
No tabernáculo, escondido, velado
Para fazer-nos querê-lo, buscá-lo
E achá-lo assim, esquecendo tudo
O que podemos saber, deixando
Brilhar somente a luz do Cristo
O Cordeiro de Deus aqui revelado

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Aplica teu coração

Aplica teu coração ao silêncio
Prepara-te na solidão para celebrares
Meus santos mistérios
Esteja teu coração vazio de todo resto
Guarda somente o desejo de te unires
A mim em minha Santa Palavra
E no Santíssimo Sacramento

Sobre o altar só se admite o sacrifício
E aquilo que serve ao sacrifício, nada mais
As velas que apontam o mistério
O livro sagrado que guia a celebração
E a oferta, as oblatas, a vítima
O que aí pões tu? Põe teu silêncio
E com ele teu coração

Quero tua vida, tudo o que és
Se não estás inteiro ao princípio
Já sobre o altar, dificilmente estarás
Inteiro até ao final. Acende já as velas
De teu desejo, abre o livro de tua vida
E põe no altar tua oferta, tua vida
Todo teu coração, todo teu desejo

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Quem poderia

Quem poderia jamais merecer
alcançar e tocar os teus pés?
Quem poderia jamais conceber
que sem merecer poderia
tocar o teu coração?
Quem poderia jamais desejar
e pedir este tão grande dom
de poder te tocar, comungar?
Impossível seria se tu
não o fizesses possível,
se não te abaixasses até
nossos pés e te fizesses visível.
Impossível seria se tu
não merecesses que mesmo
o mais miserável dependesse
de tua benevolência.
Impossível seria se tu
não o quisesses,
mas assim o quiseste,
assim o fizeste,
fizeste-nos poder merecer.
Merecemos quando em silêncio
nos aproximamos,
caladas as vozes
do mal e do erro,
do desejo soberbo
e do medo orgulhoso.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vida minha

Morro ao ver-me assim
Ao ver-te assim, humilde
Divindade enfraquecida
Escondida sobre o altar
Vida minha aí fora de mim
Em mim morte tão sentida
Vazio infinito de mim
De ti desejo, anseio
Insaciável de outro jeito
Senão aqui, na morte
No calvário, minha morte
E tua, véu que esconde
Tua glória e apaga
Minha culpa, glória
Que deixa em mim
Tão forte sentimento
Que a pena ainda sofro
Da culpa que apagaste
Sofro a demora, ausência
Esperança insatisfeita
Desejo sempre incompleto
E morro ao ver-te assim
Pequeno e glorioso, oculto
Vida minha aí, fora de mim
E de desejos me consumo
Enquanto espero poder chegar
Tão perto de ti que te possa
Tocar, comungar, adorar e amar
E reviver ao te encontrar
Vida minha aqui dentro de mim

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Tua Voz

Teu silêncio e minha voz
Confundem-se neste olhar
Que desviar-se já não pode
Alma que deixou-se mover
Envolver por amor tão grande
Que se estende por toda parte
E em toda parte é inteiro
Infinito, eterno

Minha voz e teu silêncio
Confundem-se em meu silêncio
Neste olhar, neste desejo
Que não sei explicar
Desejo que já não pode
Desviar-se do amor, amor
Imenso que me envolveu
Em sua imensidão

Tua voz, meu silêncio
Coração teu que puseste
Em mim, vida minha que vivo
Já não em mim, em ver-te
Em ter-te perto de mim
Comigo e em mim, vida
Que na morte, tua e minha
Uma só se tornou

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Eis o Cordeiro

Ergo os olhos para o altar e vejo Vosso Corpo, erguido como no calvário, o sacrifício consumado, Vosso espírito entregue nas mãos do Pai e Vosso Sangue inteiramente derramado. Recordo-me de Vossas palavras, do mistério a todo povo anunciado, o Filho do Homem elevado da terra e a Ele atraído todo vivente. Vejo-vos no Sacramento e vejo cumprir-se o mandamento, a ordem do Pai que ao Filho a todos atrai. Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, eis mistério que da morte o mundo resgata, eis a vítima pascal que nos retira da morte, eis o caminho à vida e a própria vida, eis a verdade que ensina a trilhá-lo, eis o Filho do Homem da terra elevado, sobre o altar erguido. Eis que vos segue o homem caído, o homem ferido, por Vosso Pai a Vós atraído, de em sua casa receber-Vos reconhecendo-se indigno, mas obedecendo ao mandato do Pai. Atraídos somos a Vós, Senhor Jesus Cristo, Cordeiro Santo que a todos redime, Cordeiro Santo que à nossa fome sacia, que a nossa vida restaura, que a salvação anuncia e entrega nas mãos dos indignos, pecadores tornados justos por este mesmo mistério. Eis o fruto da misericórdia do Pai, o amor que toda culpa perdoa, que de nossa pena partilha, a compaixão que a todo mundo cativa. Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo e Vos bendizemos, porque pela Vossa Santa Eucaristia alimentais o mundo.

Senhor Jesus Cristo, Vosso Corpo e Vosso Sangue que vou receber não se tornem causa de juízo e condenação, mas, por Vossa bondade, sejam sustento e remédio para a minha vida.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Tornar-se divino

Pode o humano divino tornar-se
Naquele instante breve em que o tempo
Desaparece e aparece a eternidade
Num tempo que se estende sem haver
Termo visível ou aparente condição
De brevidade, tempo, no entanto
Que brevemente passa e escapa sem
Vestígio sensível de nossas mãos

Pode o humano tornar-se divino
Ao desprender-se de si e do tempo
Do instante presente e da espera
Da angústia do tempo a esvair-se
Sem rédeas, contratempo inevitável
Cuja força indomável pode veramente
Ser vencida, ultrapassada, superada
Na união de humanidade e divindade

Pode o humano divino tornar-se
Num instante que antecipa aquele dia
Fim de todos e de tudo princípio
Naquele sacrifício que a tudo
Renova, restaura como se já agora
Neste tempo o tempo em eternidade
Se transformara, mistério, desejo
Satisfeito de esperanças, Comunhão