terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tua Paixão

É difícil dizer o que senti quando Te vi ferido, golpeado por carrascos que não viam Teu amor, que se esqueceram de olhar teus olhos e ficar em silêncio na Tua companhia. Fico pensando no que sentiu Tua mãe ao ver-Te daquele jeito e ela, imobilizada, só podia sofrer em silêncio. O silêncio reinava naquele lugar, embora os gritos da multidão, dos carrascos e de teus temerosos seguidores tomassem os ares. O silêncio nos constrangia e nos compungia, Tu não dizias nada, não gemias, não gritavas e sequer Te deixavas vencer por tantos golpes.

É difícil dizer o que senti quando foste levado, eu esperava reencontrar-Te saindo dali para poder sarar Tuas tantas feridas, mas não pude. Voltei ao pátio do palácio e ali foste outra vez apresentado à multidão. "Eis o homem", dizia Pilatos, e a multidão enfurecida gritava para que fosses crucificado. Estavas vestido de rei e coroado de espinhos, mas Te condenaram a morrer na cruz, mesmo tendo sido flagelado. É difícil dizer o que senti quando foste condenado à crucificação. Segui-Te por todo o caminho, vi Tuas quedas, Teu rosto por terra sob o peso daquele patíbulo e Tua vontade de seguir até o final; e Tu permanecias em silêncio. Era chegada a hora do filho do homem ser levantado da terra e três cravos puderam prender-Te ao madeiro da cruz. Teu sangue vertia abundantemente e caindo no chão fez do calvário o lugar mais santo da terra. Ali quem Te amava fez silêncio contigo, já não havia esperanças de revogar Tua condenação, não era mais possível provar Tua inocência e morreste culpado, culpado de ser pobre, culpado de ser homem, culpado de ser Deus, culpado de muito amar.

Porém, tanto amor não poderia compreender o homem se pela morte não fosse provado. Hoje vejo que estar ali foi o maior dom que me fizeste, ver-Te morrer meu maior presente e cada vez que Te vejo outra vez elevado da terra, como no calvário, sinto aquele mesmo desejo de seguir-Te até o final. Quem poderia crer em tão grande amor se o Filho do Homem não fosse entregue nas mãos dos pecadores, se Ele não perdoasse a esses mesmos pecadores no auge do suplício que lhe infligiram? Quem o poderia crer se o Filho do Homem não tivesse desejado ardentemente comer essa Páscoa e permitir que aquele mesmo sacrifício que teve lugar no Calvário pudesse, pelas mãos de homens pecadores, ter lugar também sobre nossos altares e no coração de todo aquele que com as disposições convenientes come Seu Corpo e bebe Seu Sangue sacramentados?

Tua morte tornou-se-me a vida, minha vida valeu Tua morte e em minha morte me dás Tua vida.

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